me digas, então: se eu te amasse, ajustaria teu coração? o teu corpo reconheceria essa massa estranha que bate dentro de ti?
talvez eu tente, sim, ajustar-te a esse mundo de corpos fechados, corações dormentes e mãos armadas.
e de ti, minha menina, só espero poder estancar o coração varado de flechas e, quem sabe, um dia te sintas adequada.
ideias soltas e devaneios atemporais
31.12.12
27.11.12
Na última folha do meu caderno, uma história
Era 5 de maio de 2012.
Uma mulher me observa dentro do ônibus enquanto olho desatenta o rio pelo qual passamos. Me pergunta, certeira:
- Você está pensando em alguém, não é?
Sorrio impressionada. Mas que perspicaz! Tento disfarçar, dizendo:
- Pensando na vida...
Não satisfeita, dispara:
- Com esse sorriso no rosto? Não! Você está pensando em alguém, sim.
E agora? Desmascarada, sorrio novamente, dessa vez acompanhada da esperta senhora.
Desço do ônibus, cheguei ao meu destino. Ainda estou sorrindo, encantada com a delicadeza e atenção daquela mulher que provavelmente nunca mais verei na vida, mas que me decifrou em alguns segundos.
Mas que perspicaz!, pensei. Atravessei a rua, segui caminhando para encontrar o motivo daquela interação inusitada. Finalmente, o encontrei. O dono dos meus pensamentos - os bons e os ruins - e do meu agora antigo sorriso espontâneo.
Quem me dera passar mais tempo com aquela senhora e, quem sabe, aprender como posso voltar a ter aquele sorriso bobo no rosto. Aquela sensação de que existia, ainda que distante, um "nós".
Uma mulher me observa dentro do ônibus enquanto olho desatenta o rio pelo qual passamos. Me pergunta, certeira:
- Você está pensando em alguém, não é?
Sorrio impressionada. Mas que perspicaz! Tento disfarçar, dizendo:
- Pensando na vida...
Não satisfeita, dispara:
- Com esse sorriso no rosto? Não! Você está pensando em alguém, sim.
E agora? Desmascarada, sorrio novamente, dessa vez acompanhada da esperta senhora.
Desço do ônibus, cheguei ao meu destino. Ainda estou sorrindo, encantada com a delicadeza e atenção daquela mulher que provavelmente nunca mais verei na vida, mas que me decifrou em alguns segundos.
Mas que perspicaz!, pensei. Atravessei a rua, segui caminhando para encontrar o motivo daquela interação inusitada. Finalmente, o encontrei. O dono dos meus pensamentos - os bons e os ruins - e do meu agora antigo sorriso espontâneo.
Quem me dera passar mais tempo com aquela senhora e, quem sabe, aprender como posso voltar a ter aquele sorriso bobo no rosto. Aquela sensação de que existia, ainda que distante, um "nós".
7.9.12
7 de setembro. 2012.
7 de setembro. O ano é 2012.
Há exatos 190 as pessoas que viviam nesta terra, Brasil, receberam a notícia de que, a partir de então, eram independentes. Imagino que levantaram-se bandeiras, soltaram fogos e saíram às ruas - os que compreendiam e os que aderiram à onda. Enfim, brasileiros.
Há 48 anos outros brasileiros assistiram à tomada da presidência da república por um levante militar. Era preciso pôr ordem na casa que, à beira das garras comunistas, corria perigo. Proteja-se a pátria!
Então, por 24 anos meu avô, meu pai e outros tantos brasileiros viveram num Brasil, nossa pátria, em que não era permitido questionar. Brasil, ame-o ou deixe-o. Ao meu avô, restou-lhe trabalhar para que certo dia o país voltasse à calma. Ao meu pai coube a indignação dos jovens. Saiu à ruas e gritou para ser ouvido. Os defensores da pátria, no entanto, levantaram armas contra ele e tantos outros.
Durante muito tempo, os pensamentos e preces da minha avó foram dedicadas ao meu pai. Para que, enquanto tentava questionar um país de imposições e censura, não fosse pego e nunca mais visto. Imagino que milhares de outras mães faziam o mesmo. Sei, no entanto, que muitas não tiveram as preces ouvidas.
Hoje, 7 de setembro de 2012, assisto na TV passeatas e desfiles cívico-militares de tão orgulhosos brasileiros. Olho bem seus rostos e vejo que estão felizes com sua pátria, o nosso Brasil. Vejo pessoas, famílias inteiras, sentadas em arquibancadas sob sol quente. Vejo bandeirinhas, sorrisos e esquecimento. Nesse momento me falta ar, meus olhos alagam e minha garganta é tomada por um grito contido, um nó que dói e imagino ser a dor de milhares de mães, pais, jovens, velhos e mortos.
Eu vejo, também, que alguns brasileiros ainda lembram das preces não atendidas, dos jovens desaparecidos, dos nomes e rostos dos responsáveis da minha dor e tantas outros brasileiros. Por fim, eu vejo as pessoas que comemoram o 7 de setembro olharem feio para aqueles com cartazes na mão e gritos de protesto e memória. Devem pensar "estes vagabundos não tem o que fazer" ou "é por isso que o país está assim, é preciso pôr ordem nessa baderna". Daí aparecem as fardas, retiram os cartazes, os gritos e aqueles que lembram para dar passagem ao progresso, à ordem, à pátria amada, ao Brasil.
E então eu choro. Eu, brasileira, que não vivi nenhum dos acontecimentos citados, sinto cada um deles na pele, no que há de mais patriota em mim. E penso: onde nós estamos errando?
19.5.12
toda sorte
antes fosse a poesia
disfarçada por recursos e lírica
antes fosse, antes fosse.
antes fosse a minha sorte
que no lugar de você
fosse qualquer sorte ou azar.
mas foi minha, minha poesia
e te fez sorte,
e te trouxe disfarçada.
antes fosse azar escancarado
antes admitisse o veneno,
que, por um beijo, me contaminasse.
antes fosses anunciado
azar meu, sorte minha
antes levasse a poesia,
e me deixasse intacta
antes meu azar do que isto
isto que não restou e
e.
disfarçada por recursos e lírica
antes fosse, antes fosse.
antes fosse a minha sorte
que no lugar de você
fosse qualquer sorte ou azar.
mas foi minha, minha poesia
e te fez sorte,
e te trouxe disfarçada.
antes fosse azar escancarado
antes admitisse o veneno,
que, por um beijo, me contaminasse.
antes fosses anunciado
azar meu, sorte minha
antes levasse a poesia,
e me deixasse intacta
antes meu azar do que isto
isto que não restou e
e.
28.4.12
Cá estou: Beirando a linha tênue entre a lágrima saltando aos olhos e a gota escorrendo pelo rosto.
Na encruzilhada sem nome em que a impossibilidade de continuar a querer se faz real.
Cá estou eu a sentir liquefeito tudo aquilo que era sólido, seguro, constante.
Cá estou a tentar secar os rastros de você espalhados pela pele fria, pálida.
E você da dor em mim nada sabe. Não saberá.
A tristeza se com veste uma bela máscara, essa mesma que te cumprimenta.
Na encruzilhada sem nome em que a impossibilidade de continuar a querer se faz real.
Cá estou eu a sentir liquefeito tudo aquilo que era sólido, seguro, constante.
Cá estou a tentar secar os rastros de você espalhados pela pele fria, pálida.
E você da dor em mim nada sabe. Não saberá.
A tristeza se com veste uma bela máscara, essa mesma que te cumprimenta.
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