Costumava acreditar que as pessoas são feitas de medo. Aquele medo empurrado goela a baixo por essa nossa necessidade de aparentar coragem, sabe? Costumava acreditar que havia pessoas boas, mas essa é uma ideia tão absurda que já nem a divulgo. Costumava também pedir ajuda. Mas sabes, isso requer uma barganha, muita vezes mais cara do que posso pagar. Costumava tentar negociar com seres humanos. Mas não, não se pode mais fazer tal coisa. Fomos vendidos a algum mercador sádico que não permite dessas graças, por assim dizer. Somos completamente escravos dele ou acabamos contaminando-o? Não sei. Uma coisa é certa: todo esse discurso agora só me provoca...nada. Devo voltar ao meu jornal, meu café, meu bate-boca matinal no boteco da esquina com o Seu Zé e os outros miseráveis clientes assíduos, como eu. Só não aguento mais, por favor, que me digam: tenha um pouco mais de fé. Escute bem, meu caro: meu café vai esfriar, o boteco fecha as portas e essa fé não vem. Cheguei até a procurá-la nos jornais, mas de lá ela passa longe. Tenha fé no que eu digo.
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