Tudo estava num tom cinza. O quarto, a sala, o quintal, tudo envolto numa névoa rala, mas persistente. Tudo tão calmo, tão silencioso. Só havia o sussuro do vento, como pra lembrar que não era um sonho, que ali havia vida. Mas onde?
Saí a procura. Dei alguns passos, estava descalça, percebi. Meus pés tocavam a terra tão suavemente, estava eu a flutuar? Era uma sensação boa, confortável. A cada passo notava algo novo em meio à neblina. Demorei-me observando uma gota d'água deslizando sobre uma folha verde escura, marcando sua superfície, caindo lentamente até, finalmente, tocar o chão e revolver o cascalho para, em seguida, se acomodar. Tudo tão leve. Era mesmo real? Do quintal havia uma vista bonita, eu recordava, mas agora já não podia vislumbrá-la, a cortina branca não cedia. Era tudo tão confuso, não conseguia lembrar como chegara ali ou que horas eram, o sol, ele não estava à vista.
Eu estava sozinha? Mais alguns passos. Outros. Nada. Nada à minha volta, nada que desse uma pista do que acontecia. Dei a volta, segui para casa. Era hora, embora o sol permanecesse alheio ao dia e suas obrigações, devia ser. Quanto tempo eu estava lá fora? Não sabia. Caminhei até a varanda mas, um passo antes de alcançá-la, algo me antigiu. Senti terra, névoa e água repentinamente girarem ao meu redor. Água, sim, estava chovendo, notei. Uma chuva fraca, aumentando a intensidade e dissipando lentamente o manto branco que se estendia pelas árvores. Escutava os estalos das gotas ao tocarem o solo, os galhos balançarem; o vento urrava em meus ouvidos. O cheiro me alcançou com intensidade, uma mistura cítrica e doce, sufocante e excitante vinha com a brisa. Meus olhos afundaram em cores, sombras, luzes. A temperatura pouco a pouco diminuía, pude sentir um arrepio percorrer minha coluna até a nuca, deixando aquela sensação de inacabado. Pensamentos reclamavam seus direitos em minha mente, explodiam sensações, de onde não sei, preenchendo cada parte do meu ser.
Tudo me tocava, não ignorava nada. Não havia mais nenhum invólucro, nenhuma proteção. Nessa hora eu a concebi, eu a senti. Sentia tudo, tão próximo e forte... impossível de negar. Era vida que havia ali, era vida que havia em mim. A anestesia se foi, deixou pra trás uma centelha de vida, imatura, inocente, mas ansiosa: o que acontece se eu der outro passo?
Saí a procura. Dei alguns passos, estava descalça, percebi. Meus pés tocavam a terra tão suavemente, estava eu a flutuar? Era uma sensação boa, confortável. A cada passo notava algo novo em meio à neblina. Demorei-me observando uma gota d'água deslizando sobre uma folha verde escura, marcando sua superfície, caindo lentamente até, finalmente, tocar o chão e revolver o cascalho para, em seguida, se acomodar. Tudo tão leve. Era mesmo real? Do quintal havia uma vista bonita, eu recordava, mas agora já não podia vislumbrá-la, a cortina branca não cedia. Era tudo tão confuso, não conseguia lembrar como chegara ali ou que horas eram, o sol, ele não estava à vista.
Eu estava sozinha? Mais alguns passos. Outros. Nada. Nada à minha volta, nada que desse uma pista do que acontecia. Dei a volta, segui para casa. Era hora, embora o sol permanecesse alheio ao dia e suas obrigações, devia ser. Quanto tempo eu estava lá fora? Não sabia. Caminhei até a varanda mas, um passo antes de alcançá-la, algo me antigiu. Senti terra, névoa e água repentinamente girarem ao meu redor. Água, sim, estava chovendo, notei. Uma chuva fraca, aumentando a intensidade e dissipando lentamente o manto branco que se estendia pelas árvores. Escutava os estalos das gotas ao tocarem o solo, os galhos balançarem; o vento urrava em meus ouvidos. O cheiro me alcançou com intensidade, uma mistura cítrica e doce, sufocante e excitante vinha com a brisa. Meus olhos afundaram em cores, sombras, luzes. A temperatura pouco a pouco diminuía, pude sentir um arrepio percorrer minha coluna até a nuca, deixando aquela sensação de inacabado. Pensamentos reclamavam seus direitos em minha mente, explodiam sensações, de onde não sei, preenchendo cada parte do meu ser.
Tudo me tocava, não ignorava nada. Não havia mais nenhum invólucro, nenhuma proteção. Nessa hora eu a concebi, eu a senti. Sentia tudo, tão próximo e forte... impossível de negar. Era vida que havia ali, era vida que havia em mim. A anestesia se foi, deixou pra trás uma centelha de vida, imatura, inocente, mas ansiosa: o que acontece se eu der outro passo?
Publicado após 'Diálogo'. O blogger é que colocou ele antes, coitado.
ResponderExcluirAnestesia - 21/06/10
Esses erros do blog às vezes são tão incovenientes, mas enfim... superáveis, certo? Normalmente, quando eu começo um texto, o blog salva ele em rascunhos, e se somente dias depois eu volto a alterá-lo, ele é automaticamente publicado na data em que comecei o rascunho. Chato isso, mesmo que pra tecnologia do site faça sentido.
ResponderExcluir-
Meu último texto (chuva) tem mesmo algo de parecido com o seu: é notável como os nossos sentidos (sim, os físicos) nos afetam, e influenciam. E essa anestesia, sim. Gostei de como você a narrou, me parecia que eu estava assistindo à cena enquanto ela acontecia em câmera lenta. E gostei do despertar ao final, e do mistério intrigante de um possível próximo passo. Quantas vezes nos sentimos assim! Impelidos a continuar - e com temores e ansiedades competindo entre si.
Aliás, gosto muito daqui e do que/como você escreve!