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29.1.12

Recife faz mal ao coração II

Recife faz mal aos corações médio e pequeno burgueses. Nós, que pagamos pelas fantasias realizadas por homens alheios à boemia e ao saudosismo que inspiram nossas vãs paixões. Eles, que vendem sonhos e romance em pequenos botes jogados às águas de rios sedentos de lágrimas.

Essa brisa que dá no Recife faz mal ao coração. Brisa doce, cheia de lembranças. Essas ruas do Recife fazem mal ao coração. Cada calçada e cada esquina te esperam para o dèjá vu de um beijo, um abraço que não voltará a acontecer. Recife e suas ruas fazem muito mal ao coração daqueles que se permitem apaixonar pelos detalhes, pelos sussurros, pelas promessas de retorno. Nos apaixonamos pelos corações desenhados na palma da mão, pelos acenos de dentro do táxi.

Quantos corações não choraram às margens dos rios que recortam essa cidade? Quantos não choraram suas decepções, entraram num bote e alimentaram a ilusão de que acabaria tudo bem? E os homens que os levaram mar adentro, o que amaram? Quantos passageiros e navegantes não escreveram poemas assistindo à vida que vai e vem pelos rios e ruas do Recife?

Se foram. As dores, as paixões, as noites, os vendedores de romance e os jovens tolos, as ilusões. Todos foram, todos vão. Mas a cidade, as marcas que nela e por ela foram feitas permanecem.

Pois Recife é exatamente isso: uma cidade de passagem. Onde se encontra e se perde. Vai-se embora, mas as marcas ficam em você. Não custa avisar, mais uma vez: Recife faz um mal danado ao coração, cuida do teu.

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