Páginas

30.1.12

a falta que faz












... a espontaneidade dos amores ternos, aqueles que quando você menos espera vão embora.

29.1.12

me perder nos teus olhos turvos


Recife faz mal ao coração II

Recife faz mal aos corações médio e pequeno burgueses. Nós, que pagamos pelas fantasias realizadas por homens alheios à boemia e ao saudosismo que inspiram nossas vãs paixões. Eles, que vendem sonhos e romance em pequenos botes jogados às águas de rios sedentos de lágrimas.

Essa brisa que dá no Recife faz mal ao coração. Brisa doce, cheia de lembranças. Essas ruas do Recife fazem mal ao coração. Cada calçada e cada esquina te esperam para o dèjá vu de um beijo, um abraço que não voltará a acontecer. Recife e suas ruas fazem muito mal ao coração daqueles que se permitem apaixonar pelos detalhes, pelos sussurros, pelas promessas de retorno. Nos apaixonamos pelos corações desenhados na palma da mão, pelos acenos de dentro do táxi.

Quantos corações não choraram às margens dos rios que recortam essa cidade? Quantos não choraram suas decepções, entraram num bote e alimentaram a ilusão de que acabaria tudo bem? E os homens que os levaram mar adentro, o que amaram? Quantos passageiros e navegantes não escreveram poemas assistindo à vida que vai e vem pelos rios e ruas do Recife?

Se foram. As dores, as paixões, as noites, os vendedores de romance e os jovens tolos, as ilusões. Todos foram, todos vão. Mas a cidade, as marcas que nela e por ela foram feitas permanecem.

Pois Recife é exatamente isso: uma cidade de passagem. Onde se encontra e se perde. Vai-se embora, mas as marcas ficam em você. Não custa avisar, mais uma vez: Recife faz um mal danado ao coração, cuida do teu.

28.1.12

De onde vem as respostas

Deito, passo a encarar a escuridão. Procuro atravessar a espessa camada do escuro sólido, aquele que paira no ar e sussurra aos nossos ouvidos nos momentos de medo. Alcanço a verdadeira escuridão. Liberta de sons, cheiros ou qualquer movimento. A escuridão dos sentidos, o reduto dos meus sentimentos e pensamentos mais profundos e sombrios. Posso passar horas revisitando cenas antigas, recontar momentos e criar um futuro que só existe na minha própria cabeça, no canto escuro dos meus desejos e inquietações. O local onde guardo meus bens mais preciosos, a escuridão, por vezes iluminada, dentro de mim. Segundos arrastam-se por horas, deixam um rastro e revolvem meu estômago, como se descesse uma escadaria interminável em círculos, cada vez mais rápido, cada vez mais fundo, mais escuro. Descendo, lembrando, sonhando, sofrendo, revivendo, escondendo até que finalmente sou puxada de volta pelo ventre. Arremessam-se para fora do redemoinho de sentimentos e, enfim, abro os olhos. Sei a resposta. Tudo o que consigo enxergar é o teto. E uma saída.