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22.8.10

Esquecer?

- O que houve?
-Foi tudo tão surreal, não, digo, irreal. Agora é como se houvesse um véu que me impede de lembrar aquelas cenas com os detalhes, as cores, os cheiros, as sensações que foram tão reais - ou irreais, surreais, o que seja. Apenas parecem, é o que importa. É que ainda não parece real, entende? Até o que só agora eu sei que não era. Ou talvez eu não apenas não consiga acreditar que não era verdade. Eu posso tentar desvendar esse mistério, mas não vou. Não perderia mais um segundo sequer buscando falsas palavras, falsos sorrisos tão desgraçadamente reais. Poderia, como os outros, ignorar tudo isso. É mais fácil, não é? É tentador, tenho que confessar. Fingir que não é nada, que é algo natural e conseguir um pouco de paz. Faria qualquer coisa, mas não posso, a barganha me é muito cara. Simplesmente não vou mentir e negar o que eu sou, o que eu sinto.
- É só isso, então?
- Hã. É, é só isso.
- Como você está?
- Você quer a verdade?
- ...

18.8.10

Agosto

É que agosto tem se revelado. Exatamente como eu não gostaria de crer. Mas é assim, não tenho o poder de mudar. A-(contra)gosto vai passar. Assim como os temores, como os tremores e amores. Como as dores também. Não posso delegar tanta importância para você já que o plano é seguir. Setembro vem logo ali, me acena da janela, mas não vou te levar. Fica com as amarguras, elas há muito me cansaram. Agosto é onde as guardo bem seguras, escondidas. São também tuas, cuida bem dos nossos mimos.

7.8.10

Hermenêutica, Ego e Amor

Para todos os que se deixam levar, os que não ouvem, os que se antecipam indevidamente. Eis uma his/estória para contar.

Depois de tudo o que havia acontecido, tantas ideias falsas de envolvimento fajuto, tanta confusão, tantas palavras proferidas pra machucar, tantas tentativas de se evitar o pior, chegou-se ao limite. Um limite instável, devo dizer. Uma fina linha que nos mantinha seguros de nós mesmos. Afinal, nos feríamos mutuamente, sem remédio, sem saída, inevitavelmente. Não era saudável, enfim. Comunicação não era o forte, bem sabemos. Mas insistia-se em proclamar que havia certo e errado, que nossas compreensões do que havia ali eram as únicas admitidas como verdade. Éramos tolos, sei. E como tolos, não percebemos a infinidade de vezes em que, pouco a pouco, minávamos o que havia de mais bonito, o melhor naquela confusão que, sabíamos, era amor. Não gostava de brigar, mas as discussões surgiam do nada, dessa necessidade irracional e incontrolável de querer, de te querer e de não saber bem ao certo se você estava disposto, se naquele momento éramos nós dois, nada além de nós. Bem sabemos que a vida, nossas vidas, são bem mais que nós. Queria poder estar ao teu lado a cada fisgada que, sei, você sentiu em seu peito, a cada lágrima que tentou impedir, a cada momento em que o chão poderia se abrir, pois nada mais importava. Eu queria poder te dizer, e te fazer entender, que eu apertaria tua mão, não te deixaria cair. Pois havia tanto para nós aqui em cima, eu consigo ver, no meio de todo o sofrimento, de pensamentos sombrios, de sentimentos guardados, através desses nossos orgulhos feridos e tão massacrados. Eu queria poder rasgar essa cortina que você construiu, que só me permite enxergar o teu contorno quando há muito eu toquei o teu cerne. É que essas palavras que dissemos não tinham um manual de instruções. Elas não seguiram o caminho que esperávamos, afinal, quem poderia esperar por isso? "Eu te amo" é muito mais do que três palavras, sete letras, não é? Elas foram bem mais o ápice do nosso desencontro que o clímax da nossa relação. Mas eu não queria que o erro maculasse isso que nós temos, isso que não necessita de palavras, de codificações ou decodificações. Isso que é maior que nós, que me faz te alcançar, rasgar cortinas e te penetrar, enfim. Isso que destrói esses belos muros que construímos para nos proteger um do outro. Isso que, sabemos, e espero, é o nosso amor. Que permanece oculto, latente como a única verdade, a única nossa verdade.

E não tem fim, entende? Nunca poderemos estar seguros, pois isso que se deseja implica devoção - algo tão distante e ilusório. Segurança não nos liberta, apenas o confiar no outro nos permite ser e viver o que é para ser nosso. Isso é aqui, em qualquer lugar onde estivermos, mas não tem que ser agora. É importante saber (te) esperar.

6.8.10

Precipício

Estávamos de mãos dadas, sempre mãos dadas. Juntos, mas não próximos. O contato, pura convenção. Nossos toques, vazios. Nossos abraços, sem calor. Nosso amor...havia mesmo amor? Nossa distância, intensa. Chegamos à beira do precipício. Logo ali, tão perto o tudo e o nada. Mistério. Ouvi você pedindo para eu não ir, para ficar com você, apertou minha mão mais forte. Desculpe, sempre fui mais id. O azul me convidava. E nesse dilema, dar um passo pra trás ou mergulhar, permaneci. Passo pra trás? Mergulhar? Passo pra trás? Mergulhar? Passo pra trás? Mergulhar? Passo pra trás? Mergulhar? Passo pra trás...? Mergulhar...?
Sorri para você. Dei um passo pra trás. Mirei o azul. Soltei sua mão e mergulhei.

4.8.10

d s b

Eu não iria embora. Eu ficaria, essa necessidade - que me é racional(?) - de ferir pra, quem sabe, sarar me faria ficar. Me arrastaria uma vez mais, afundaria e esconderia, sim, eu esconderia. Eu permaneceria até o fim. Sempre, num tempo que já nem lembro, perdido nessas minhas memórias turvas. Mas não dessa vez. Algo me soprou que não é preciso nada disso. Permiti demonstrar o que tanto é ocultado. Não estou orgulhosa, apenas sinto que não traí a mim mesma. Fui sincera e não pretendo me desculpar por isso. Sim, fui fraca, é uma perspectiva, afinal. Mas talvez agora eu consiga perceber algo sobre preservação que preferia ignorar: você não tem que ser forte todo o tempo.

3.8.10

Closer



- I don't love you anymore.
- Since when?
- Now. Just now. I don't wanna lie. I can't tell the truth, so It's over.
- It doesn't matter. I love you. None of this matters.
- Too late. I don't love you anymore. Goodbye. Here is the truth. So now you can hate me. Larry fucked me all night. I enjoyed it. I came. I prefer you. Now go.
- I knew that. He told me.
- You knew?
- I needed to hear from you.
- Why?
- Because he might have been lying. I had to hear from you.
- I would never have told you, because I know that you would never forgive me.
- I would. I have.
- Why did he tell you?
- Because he is a bastard.
- How could he?
- Because he wanted this to happen.
- But why test me?
- Because I am an idiot.
- Yes! I would've loved you forever. Now, please go.
- Don't do this, Alice, talk to me.
- I am talking, fuck off.
- I know, I'm sorry, you misunderstand, I didn't mean to.

(...)

- I love you!
- Where?!
- What?
- Show me. Where is this love? I can't see it, I can't touch it, I can't feel it. I can hear, I can hear some words but I can't do anything with your easy words. Whatever you say, It'i too late.
- Please, don't do this.
- It's done. Now, please go or I'll call security.
- You're not in a strip club, there is no security. Why did you fuck with him?
- I wanted to.
- Why?
- I desired him.
- Why?!
- You weren't there.
- Why him?!
- He asked me nicely.
- You are a liar.
- So?
- Who are you?!
- A no one. Go on, hit me. It's what you want, hit me, fucker.


Cena: http://bit.ly/tfnew