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7.9.12

7 de setembro. 2012.

7 de setembro. O ano é 2012.

Há exatos 190 as pessoas que viviam nesta terra, Brasil, receberam a notícia de que, a partir de então, eram independentes. Imagino que levantaram-se bandeiras, soltaram fogos e saíram às ruas - os que compreendiam e os que aderiram à onda. Enfim, brasileiros.

Há 48 anos outros brasileiros assistiram à tomada da presidência da república por um levante militar. Era preciso pôr ordem na casa que, à beira das garras comunistas, corria perigo. Proteja-se a pátria!

Então, por 24 anos meu avô, meu pai e outros tantos brasileiros viveram num Brasil, nossa pátria, em que não era permitido questionar. Brasil, ame-o ou deixe-o. Ao meu avô, restou-lhe trabalhar para que certo dia o país voltasse à calma. Ao meu pai coube a indignação dos jovens. Saiu à ruas e gritou para ser ouvido. Os defensores da pátria, no entanto, levantaram armas contra ele e tantos outros.

Durante muito tempo, os pensamentos e preces da minha avó foram dedicadas ao meu pai. Para que, enquanto tentava questionar um país de imposições e censura, não fosse pego e nunca mais visto. Imagino que milhares de outras mães faziam o mesmo. Sei, no entanto, que muitas não tiveram as preces ouvidas.

Hoje, 7 de setembro de 2012, assisto na TV passeatas e desfiles cívico-militares de tão orgulhosos brasileiros. Olho bem seus rostos e vejo que estão felizes com sua pátria, o nosso Brasil. Vejo pessoas, famílias inteiras, sentadas em arquibancadas sob sol quente. Vejo bandeirinhas, sorrisos e esquecimento. Nesse momento me falta ar, meus olhos alagam e minha garganta é tomada por um grito contido, um nó que dói e imagino ser a dor de milhares de mães, pais, jovens, velhos e mortos.

Eu vejo, também, que alguns brasileiros ainda lembram das preces não atendidas, dos jovens desaparecidos, dos nomes e rostos dos responsáveis da minha dor e tantas outros brasileiros. Por fim, eu vejo as pessoas que comemoram o 7 de setembro olharem feio para aqueles com cartazes na mão e gritos de protesto e memória. Devem pensar "estes vagabundos não tem o que fazer" ou "é por isso que o país está assim, é preciso pôr ordem nessa baderna". Daí aparecem as fardas, retiram os cartazes, os gritos e aqueles que lembram para dar passagem ao progresso, à ordem, à pátria amada, ao Brasil.

E então eu choro. Eu, brasileira, que não vivi nenhum dos acontecimentos citados, sinto cada um deles na  pele, no que há de mais patriota em mim. E penso: onde nós estamos errando?