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26.6.11

Nada é de graça, não, nem o amor

Principalmente o amor, meu amigo. Sim, amigo, te escrevo hoje pra falar o quanto é penoso, o quanto pode machucar e também o quanto às vezes é a maior das dores, o amor. Custa caro amar, custa caro manter o que quer que pensemos que amor. Seja com palavras, seja com músicas ou com um olhar. O amor, a nossa amizade, custa caro, mas é um preço justo a se pagar. É algo que pago com satisfação e orgulho. Ainda que me recuse a crer que vale a pena, eu pago.
Pois é disso que é feita a vida, não? Me diga, apesar de um desencontro, é você quem eu posso chamar. É o seu número gravado na memória da vida, o sorriso, o abraço feliz e o abraço triste, a mão que segurou a minha tantas vezes. Meus, meus eternos e por vezes momentâneos amigos, estamos falando só da vida. E entenda, ela é traiçoeira, mas não deve ser nada. Os desenganos, as descobertas, o inesperado que estava na nossa frente por tanto tempo e, bom, simplesmente não vimos, mas estava e está ali para mim, para você. Como o amor se revela nos segundos de infinito, como amizades desenham os caminhos da nossa vida, como a maré de sorte ou azar nada pode contra a certeza, a única certeza: eu posso acreditar em você, eu posso te chamar de amigo.


"Sem você a emoção hoje seria pele morta da emoção do passado"
Hipólito


Não é tão fácil ou tão difícil, é só amor. É o que se paga para sorrir ou chorar junto, ou melhor, é o que se paga para ter alguém junto, mesmo que distante. Eu te digo que vale a pena, amigo, confie.

12.6.11

C'est la vie?

Você nunca sabe ao certo o que acontece ali dentro, sabe? Bêbada e irresponsável, pensei à primeira vez que a vi.
A maquiagem borrada, roupas que mais pareciam trapos estilizados por uma criança, sentada na calçada, trêmula, bebia na boca da garrafa o que restava da vodka barata. Seu rosto tinha uma expressão estranha de enjoo, vomitou, e por pouco não caiu de cara no chão. Foi nessa hora que um homem, mais um menino com ares de confiança, se aproximou para ajudá-la. Passou a mão em volta sua cintura, a levantou e segurou em seus braços. Ela tentou, então, se equilibrar, ele não a soltou, apertando-a contra si. Ela se debateu, empurrou o menino com os dois braços, no que ele a acertou com um tapa na cara. Nunca vi tanta fúria, juro a você. Ela cravou as unhas no pescoço dele e mordeu seu lábio. Um murro no nariz e pronto, tinha sangue por todo lado enquanto o pobre garoto gemia caído no chão. Ela saiu, cuspiu alguma coisa que mais tarde eu percebi, era um pedaço do lábio do agressor, recolheu sua coisas e caminhou rápida e cambaleante pela rua estreita.
Amanhecia. A fumaça cinza que saía das chaminés das fábricas ali perto tornaram a cena tão mais misteriosa do que eu desejava. Segui a menina e sua fúria. De algum modo, ainda que naquele monte de lixo em que ela passava as noites se drogando, resistia uma mulher forte, que não se acovardava facilmente. Ela se destrói, sabe? É uma puta fodida que com certeza não vai viver muito. Mas é linda, linda em tudo. O modo como sorri após cheirar ou como simplesmente pára, olha pro céu e respira fundo, como ela revira os olhos me observando a observar.
Bêbada, irresponsável e linda, pensei. E a segui até onde não sei, mas ainda estou aqui, ainda à espreita, esperando minha vez de a levantar do chão sujo. Mas não sei, ela sempre se ergue sozinha, definitivamente não precisa de mim. Mas é bom saber que há alguém para contar.