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26.2.12

Da espera

Do tempo, as horas
Das horas, os minutos
Dos minutos, os ágeis segundos

Destes, a distração
Dela, a anestesia
Do sábio e da sabedoria,
A cura.

12.2.12

Sem cobertura

O seguro não cobre esse tipo de avaria, senhor. O relatório de avaliação informa que nossa perícia não pôde identificar a extensão e a gravidade das suas lesões. Até onde podemos afirmar, não há um tratamento conhecido que seja eficaz. Mais uma vez, nossa empresa reforça que abrangemos cerca de 98% das doenças conhecidas, trabalhamos com especialistas experientes e reconhecidos, prezando sempre por um de nível de excelência. Esperamos que nosso contrato permaneça vigente por muitos anos, garantindo a saúde do senhor nos mais diversos momentos de necessidade. Infelizmente, não podemos tratá-lo agora, mas esteja certo de que a AS Seguros e Reparos envia os mais sinceros votos de saúde ao seu coração.

5.2.12

Sobre perdas e vagas não preenchidas

Começo a acreditar que certas coisas se vão, doem e então seguimos vivendo, amenizando a falta que fazem. Mas a cada vestígio de lembrança a ferida abre, rasga a pele novamente. Restam vagas, lugares que vez ou outra você acredita poder ser reocupado. Certa hora, porém, você descobre que não é possível repor, completar, suprir o que se foi. A vaga vazia é uma ferida. É a ferida. Mas é também esperança. Pois não consigo não pensar na vida como uma série de vagas, enfileiradas, sendo ocupadas e habitadas por determinado tempo, por determinadas pessoas. E então, mais cedo ou mais tarde, uma vaga é desocupada. Por inúmeros motivos. Uns fazem bem, outros te fazem chorar. O fato é que ficam vagos. Outro fato, certamente, é que existem vagas naturalmente não ocupadas. É a esperança de que falei. A espera por novos inquilinos, nova decoração e estilo de vida. A espera sempre por algo que não precise ir, que fique o tempo necessário para fazer sofrer ao partir. Pois sempre há a hora da partida. Sempre as vagas, idas e vindas.



Me surpreendo por ainda me surpreender com o quanto um coração pode ser dividido. E continuar a bater. A amar. A desejar novos moradores. Talvez as vagas, preenchidas e não preenchidas, sejam essenciais para isso. Já disse alguma vez, me cito agora: sem dor, enlouqueceria.

Coisas que você não vê se estiver distraído

eu te vi tentar me consolar
apesar de não saber ao certo o que eu sentia
eu te vi tentar entender a extensão da minha dor
mesmo que se fosse você, não sentiria tanto
eu tive teu apoio,
e eu vi tua vontade de amenizar meu sofrimento.
por mais que estejamos desencontrados
eu encontrei em ti o carinho que eu precisava
não o que eu desejava ou o que espera-se receber
mas o afeto cuidadoso de quem tenta sarar minhas feridas
e se não consegue, ao menos cuida delas
diminui minha dor, oferece um abraço
eu te vi me dar um tanto do teu amor,
em um gesto simples, mas devoto
sair da tua redoma para proteger a minha.