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5.2.12

Sobre perdas e vagas não preenchidas

Começo a acreditar que certas coisas se vão, doem e então seguimos vivendo, amenizando a falta que fazem. Mas a cada vestígio de lembrança a ferida abre, rasga a pele novamente. Restam vagas, lugares que vez ou outra você acredita poder ser reocupado. Certa hora, porém, você descobre que não é possível repor, completar, suprir o que se foi. A vaga vazia é uma ferida. É a ferida. Mas é também esperança. Pois não consigo não pensar na vida como uma série de vagas, enfileiradas, sendo ocupadas e habitadas por determinado tempo, por determinadas pessoas. E então, mais cedo ou mais tarde, uma vaga é desocupada. Por inúmeros motivos. Uns fazem bem, outros te fazem chorar. O fato é que ficam vagos. Outro fato, certamente, é que existem vagas naturalmente não ocupadas. É a esperança de que falei. A espera por novos inquilinos, nova decoração e estilo de vida. A espera sempre por algo que não precise ir, que fique o tempo necessário para fazer sofrer ao partir. Pois sempre há a hora da partida. Sempre as vagas, idas e vindas.



Me surpreendo por ainda me surpreender com o quanto um coração pode ser dividido. E continuar a bater. A amar. A desejar novos moradores. Talvez as vagas, preenchidas e não preenchidas, sejam essenciais para isso. Já disse alguma vez, me cito agora: sem dor, enlouqueceria.

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