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29.6.10

É.

Senti sempre, mas sinto só agora que sentir tanto resultou em sentir nada.


28.6.10

Quer dizer que

Tudo pode ser arte, afinal?

Essa fotografia tem uns 2 anos, no mínimo. Pra falar a verdade, eu não sabia muito bem o que queria fazer, só depois de feito notei que havia muito mais ali que alguns elementos aparentemente aleatórios. Algo passou despercebido na hora de "apertar o botão", algo que transforma um simples retrato em uma fonte inesgotável de ideias e devaneios (por que não?). Pude perceber que eu não pretendia produzir arte em si - a arte como é conceitualizada, institucionalizada, moldada - mas significações. E se são significações o princípio para haver arte, tudo é arte para mim. Sinceramente, não creio que exista arte para nada, que não deseje expressar algo. As que usam esse pretexto tem como objetivo isso mesmo: não demonstrar objetivo. Deparamos com um, no entanto, rá rá. Porém, mais que idealizar significações, é necessário concretizar ideias - significações absorvidas e internalizadas. Sensibilidade para sentir, admirar e raciocinar é o mais importante. Daí se pode, quem sabe, tentar definir o que é arte - pra você apenas. Ou, simplificando, vamos só parar de teorizar, normatizar e tentar pôr rédeas no que é, naturalmente, livre, resultudo do mais intrínseco em nós, a fresta por onde a alma respira, por onde exala o que é, sente. Vamos apenas... ir.

27.6.10

Cansada

Canso por tanta coisa. Coisas que passam despercebidas muitas vezes.
Ando cansada de falsidade, de pessoas que não conseguem dizer o que pensam por medo, de pessoas que não admitem pra si mesmas o que pensam, o que sentem.
Canso de ver gente dando importância a besteiróis enquanto tantos outros sofrem, perdem filhos, famílias, vidas.
Me canso de ser uma só entre muitos, todos prontos pra me destruir; de pensar, lutar, bradar pelos outros e não ter ninguém disposto a fazer o mesmo por mim.
Canso de procurar uma saída, uma fagulha de esperança nesse pântano que é a vida, repleta de coisas e pessoas ruins.
Cansa olhar ao redor e perceber que tudo está apodrecendo. As pessoas, os sonhos, as vidas. Estão todos apodrecendo em seus pequenos mundinhos, construindo uma elaborada parede de visgo, lama e lixo no seu entorno.
Cansei de tentar sair do visgo; de me afetar por tão insignificantes coisas e pessoas.
Tô cansada de ser fraca.

21.6.10

Perdas

Encostou a cabeça em seu ombro, se perdeu por um segundo, seu cheiro a achou. Estavam mesmo tão envolvidos como ela achou? Ela estava perdidamente envolvida pelo seu cheiro, sua pele e...você recuou? Não entendeu. Se perdeu novamente, em seu olhar dessa vez. Se olharam e ela não viu, desculpe, mas ela não se viu. Costumava se ver em você, mas não dessa vez, você estava longe. Só ela estava presente, afinal? Se iludiu por um fio. Estavam perto. Por que você não resistiu? Ela não tinha chances, ela era sua naquele momento e você deveria ter resistido. Mas você fez, a envolveu, se encontraram enfim. Só que você não percebeu, não é? Teve-a assim e sequer soube. Daí você seguiu. A deixou perdida e não se deu conta. Você não pôde ver o que viria, o que lhes era esperado. O que te fez recuar, afinal? Agora já não interessa mais. Você apenas a perdeu finalmente. E ela te perdeu enquanto se perdia em você.

Sabe, ela já não se ilude e, ainda assim, não se vê em mais ninguém. Talvez você acredite que aqueles tempos em que estavam juntos foram os mais verdadeiros e foi o destino responsável pelo fim. Tolo, eu digo que foram os mais desastrosos. Vocês se destruíram e nem perceberam.

20.6.10

Diálogo

- Garota, você é louca?

- Bom, talvez eu seja. Mas olha, é bonito. Quer experimentar?

- Você perdeu o juízo!

- Eu me sinto bem, como há muito não acontecia.

- Não acredito em você.

- Eu posso lidar com isso, com tudo. Você pode?

19.6.10

Anestesia

Tudo estava num tom cinza. O quarto, a sala, o quintal, tudo envolto numa névoa rala, mas persistente. Tudo tão calmo, tão silencioso. Só havia o sussuro do vento, como pra lembrar que não era um sonho, que ali havia vida. Mas onde?

Saí a procura. Dei alguns passos, estava descalça, percebi. Meus pés tocavam a terra tão suavemente, estava eu a flutuar? Era uma sensação boa, confortável. A cada passo notava algo novo em meio à neblina. Demorei-me observando uma gota d'água deslizando sobre uma folha verde escura, marcando sua superfície, caindo lentamente até, finalmente, tocar o chão e revolver o cascalho para, em seguida, se acomodar. Tudo tão leve. Era mesmo real? Do quintal havia uma vista bonita, eu recordava, mas agora já não podia vislumbrá-la, a cortina branca não cedia. Era tudo tão confuso, não conseguia lembrar como chegara ali ou que horas eram, o sol, ele não estava à vista.

Eu estava sozinha? Mais alguns passos. Outros. Nada. Nada à minha volta, nada que desse uma pista do que acontecia. Dei a volta, segui para casa. Era hora, embora o sol permanecesse alheio ao dia e suas obrigações, devia ser. Quanto tempo eu estava lá fora? Não sabia. Caminhei até a varanda mas, um passo antes de alcançá-la, algo me antigiu. Senti terra, névoa e água repentinamente girarem ao meu redor. Água, sim, estava chovendo, notei. Uma chuva fraca, aumentando a intensidade e dissipando lentamente o manto branco que se estendia pelas árvores. Escutava os estalos das gotas ao tocarem o solo, os galhos balançarem; o vento urrava em meus ouvidos. O cheiro me alcançou com intensidade, uma mistura cítrica e doce, sufocante e excitante vinha com a brisa. Meus olhos afundaram em cores, sombras, luzes. A temperatura pouco a pouco diminuía, pude sentir um arrepio percorrer minha coluna até a nuca, deixando aquela sensação de inacabado. Pensamentos reclamavam seus direitos em minha mente, explodiam sensações, de onde não sei, preenchendo cada parte do meu ser.

Tudo me tocava, não ignorava nada. Não havia mais nenhum invólucro, nenhuma proteção. Nessa hora eu a concebi, eu a senti. Sentia tudo, tão próximo e forte... impossível de negar. Era vida que havia ali, era vida que havia em mim. A anestesia se foi, deixou pra trás uma centelha de vida, imatura, inocente, mas ansiosa: o que acontece se eu der outro passo?


17.6.10

De repente

E, de repente, eu me dei conta.
De todas aquelas vezes que disse a mim mesma que não era assim, que havia uma explicação. Todas as vezes que, ferida, ignorei suas ações e segui como se nada houvesse acontecido. De todas as palavras duras que me antigiam e, num passe de mágica, eu as transformava em deslizes não intencionados. De todo o cuidado excessivo em não declarar o que havia, mas não poderia ser dito jamais. Todo o medo de se mostrar, de me mostrar e, assim, não haver nada que nos separasse. Me dei conta de que nunca daria certo. Eu não poderia negar o que sou, você não poderia aceitar e eu não aceito mais suas desculpas esfarrapadas.
É hora do ponto final.

15.6.10

Relação

Ele precisava de você aqui. Ele precisava ter você ao seu lado, ter você apenas junto dele. Ele saberia que estaria seguro, ele teria você. Não te teria pra si, exclusivo, como uma propriedade. Ele te teria, assim, tão natural e intrínseco que você seria ele. Você seria o que falta para o fazer inteiro. Você seria leve, simples, agradável. Os aborrecimentos você destroçaria com beijos, abraços, olhares. Ele seria seu. Não como posse, mas como o reflexo imprescindível de uma alma. Seriam o motivo da existência de suas almas. Pois almas tem pares. Elas não tem um fim em si. Quando uma se vai, não é possível repô-la, você vive a representação de você, da vida que você teria e não é sua. E, sabe, talvez ele nem precisasse dos seus beijos, abraços e olhares. Mas ele precisava de você, só você, bem perto. A verdade é que ele ainda precisa. Mas você não está por perto. Você nunca esteve. Agora ele não passa de um esboço de si mesmo, isso tudo não é mais que uma encenação.

14.6.10

Uma

Em mim, falar nunca foi um mero atributo fisiológico, mas sim uma necessidade, antes de mais nada, à minha sanidade. Eu tento, mas não consigo, eu me calo tantas vezes... Me sufoco.

Eis que resolvi mudar. Tentar, ao menos. E aqui vamos nós. Um aviso talvez venha a calhar: não tenho nenhuma intenção de ser sutil ou agradável, estou mais pra algo indigesto, cru. Mais sinta-se à vontade, quem sabe algo lhe desperte, quem sabe algo lhe destrua.



Uma única letra. Uma tentativa de descrição?

Em espanhol, sim, porque eu gosto. Porque há nos trocadilhos, nas entrelinhas, no subentendido, no 'ar' toda a mágica da manipulação da palavra. Reducto, reduzido, afinal, tudo parece se encaminhar para uma mesma questão, da qual nunca obtemos resposta. Reduto, refúgio, forte, fortificação. Será? Guardamos a sete chaves toda a vulnerabilidade, pra que? Difarçamos desespero com sorrisos bem ensaiados, pra que? Escondemos o que há de melhor e pior em nós, pra que? Não dizem que a sinceridade é a base pra toda relação estável e verdadeira? Deveríamos, então, nos revelar por inteiro? Aceitaríamos e seríamos aceitos depois de desnudar nosso ser desse modo? Poderia alguém ser tão devoto?
Não. E quem o finge ser é com certeza um ótimo ator. Soa estranho, eu sei. Mas é isso: defendo que devemos esconder. Na verdade, não necessariamente esconder, mas resguardar. Tudo aquilo que nos é vital, tudo aquilo que pode nos destruir devemos resguardar. E não digo com isso que não se deve se entregar, ser verdadeiro. É só preservação. Uma hora alguém deve pensar no seu bem, ainda que esse único alguém seja você. Revelar-se, meu caro, é nada mais que pertencer a outros. E outros não se importam em lhe preservar.