23:04
O último ônibus sai às 23h? Merda! Não acredito que perdi.
Caminhei pela estação quase deserta, havia um banco mais a frente. Poderia esperar pelo próximo ônibus, se é que ainda havia um.
Ele viu. Pernas nuas, um vestido preto ajustado e sapatos marrons. Cabelos soltos, jogados por cima dos ombros. Só um casaco a protegia do frio daquela noite de Maio.
Ela me viu. Mas que cara é essa?
Decidiu se aproximar e perguntar se ainda haveria algum ônibus.
Você está esperando o ônibus? O último já passou?
O último também perdeu a hora, assim como eu e você. Mas não, eu não estou esperando.
Ela se sentou no banco.
Ahn, bom, então o último ônibus ainda vai passar?
Sim...
Você não é de falar muito, não é? Se não está esperando o ônibus, o que você ta fazendo aqui?
Olhou-me de canto, resmungou algo que não pude ouvir e sorriu. Meu Deus, que sorriso! O que ela fazia ali, afinal? Sozinha numa estação de ônibus, inexplicavelmente linda e desprotegida! Esperei pela sua resposta. Não veio.
Por que você está aqui sozinha?
Você também não está? Só, eu digo.
Não pude conter um sorriso. Ela sorriu também.
Você é o tipo de garota que destrói corações, não é?
Ela apoiou o queixo nos joelhos, fechou os olhos meneando a cabeça lentamente, torceu o canto dos lábios.
Não, eu sou do tipo que tem o coração partido. O que você esperava chegou.
O ônibus parou na estação. Eu subi, mas ela ficou. Sentada, um olhar gélido e distante. Não me olhou.